quinta-feira, 2 de julho de 2015

Apego e desapego


 Num dia desses me apaixonei somente por palavras. Sou muito assim, de imaginação fértil. Se ele disse que me ama, pra mim já é o suficiente. Já imagino tudo.  Como seria a minha reação ao vê-lo... como sentiria um frio carinhoso e arrepiante na barriga quando ele se aproximasse... e quando me beijasse? E o pedido do casamento? Planejo em silêncio a reação dos meus pais e a roupa que todos nós estaríamos vestindo. Visualizo com os olhos da minha alma o nosso primeiro encontro que ainda nem aconteceu. Passo toda essa minha expectativa de uma maneira delicada para ele não se assustar pelo whatsapp. Fico insegura, minhas mãos soam. Não sei o que irá acontecer, mas tenho tudo planejado nos mais finíssimos detalhes.
Enfim, vamos nos conhecer. Amigos dos mesmos amigos, todos tem fé de que tudo vai rolar na mais perfeita paz. Só que não rola. Só enrola. Os amassos são bons, mas ele fede a mortadela! Tento disfarçar, mas só penso em mortadela. Ele é complicado demais, se irrita, fica bravo, se contrai como um tatu bola por causa de irresponsabilidades que rolaram a noite. Não me aproximo, só fujo porque de complicações já bastam as que existem dentro de mim. Não me apavoro, somente me escondo nos aplicativos do meu celular, de preferência nos jogos. Bendita seja a tecnologia! Passam-se anos, muita coisa acontece. Mas nada daquilo que eu imaginava. As horas passam, o humor retorna. O sol retorna. Retornamos o cursos de nossas vidas efêmeras e tênues, voltamos a transformar nossas frivolidade em respostas substanciais a nossa existência sem sentido.
O mundo gira. E eu não paro de pensar o quão ridícula eu fui de pensar que poderia surgir um amor implacável daquela pequena pessoa confusa. Talvez seja essa vontade louca de me afogar em amores mais obscuros que os oceanos que me confunda. Talvez meu temperamento capricorniano, intenso demais, maduro demais, distante demais siga a frente da  realidade.
Tomei uma decisão com tudo isso. Não ser intensa demais. Não imaginar demais. Mas viver mais. Sentir mais. Falar mais do que digitar. Correr mais. Não me limitar mais. Não esperar muito das pessoas. Mas acima de tudo isso. Não me apegar aos meus devaneios adolescentes.

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