domingo, 27 de janeiro de 2013

Fire


Nunca senti um calor tão forte quanto aquele. Ele era intenso. Devastador. Me sufocava. Não era nada parecido com o calor de um abraço, ou o calor de estar perto de quem se ama. Não chega nem aos pés do calor dos dias de verão que não conseguimos nem sair para andar na rua. Esse calor, era o calor da morte. Aconteceu tudo tão rápido. Em um segundo estava tão feliz ao lado das minhas amigas dançando e paquerando uns caras, no outro estávamos desnorteadas sem saber o que fazer. Seguimos o instinto. Corremos. Seguimos aquela multidão em pânico. Estávamos no fundo, bem distante da saídas. Não houve tempo. Eu juro eu queria ir embora, sair dali. Fugir. Mas a fumaça, o calor, me tomaram antes que me desse conta. Antes estava tudo tão bom. A boate estava tão cheia. Eu estava tão feliz... Queria que aquilo nunca tivesse acabado. Vi muita gente caindo antes de mim, algumas pessoas até dentro do banheiro. Todos estavam gritando muito. Em algum momento consegui ouvir: "Abra, abra! Tem fogo aqui dentro!"  pensei "Porque eles não abrem? Esta ficando muito quente aqui." Tentei procurar minhas amigas mas foi tarde. Quando olhei para cima a unica coisa que vi foi aquele colorido intenso e brilhante, mas que só significava uma coisa, morte. Se fosse em um show da televisão provavelmente acharia muito bonito. Se fosse pela televisão não seria tão assustador. Isso é tudo que eu me lembro antes da fumaça me alcançar, os gritos, a vontade de sair, o calor... ah sim. O calor. Depois disso veio a escuridão, mais forte que a fumaça, mais escura. Dessa não teve como fugir.


Esse texto é de minha autoria. Fiquei imaginando como aquelas pessoas em Santa Maria sofreram e ainda estão sofrendo. A perda de um ente querido e amado as vezes pode queimar tão intensamente quanto o fogo. Pode nos consumir quase com a mesma fúria. Consumir todo o nosso ser. Poderia ter acontecido em qualquer lugar, com qualquer pessoa, poderia ter sido você lá ou eu, qualquer um. Esse é o tipo de coisa que não tem como se prevenir. É o tipo de fatalidade que só podemos pensar como ainda estamos aqui, e sermos gratos pela nossa vida. Por estarmos vivos. Reflita sobre isso.




† SANTA MARIA 










Créditos da imagem: Manoella Biroli

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