quarta-feira, 6 de março de 2013

Carpas assassinas



Vou contar agora uma história muito triste. É bom você já ir pegando o lencinho por quê essa é da pesada.
Quando tinha uns 10 ou 11 anos queria muito ter um bichinho de estimação, meus pais estraga prazeres, sempre achavam alguma desculpa para não me dar. A mais clássica era: "Supondo que você ganhe um cachorrinho certo? Quem vai limpar os dejetos dele? Quem vai comprar sapatos novos porque o seu novo amiguinho comeu os antigos? Quem vai limpar a bagunça do seu bichinho?" Ok, admito que eram bons argumentos e não havia maneiras para minha mente infantil contorna-los. Não dava pra dizer que eu limparia todos os cocôs do meu bichinho, até porque passava metade do meu dia na escola e quando chegava em casa só queria saber de farra. Então, como não dava pra discutir a favor de um cachorrinho, mudei de bancada e fui para a dos gatos, quer saber outro argumento infalível para quando seu filho pedir um gatinho e você não estiver afim? lá vai:  "Gatos soltam pelo demais, suja tudo." ou essa que é ainda melhor: "Gatos fazem cocô e xixi muito fedidos." ou você também pode usar aquela da bagunça e limpeza que citei anteriormente no caso dos cachorros. Nem preciso dizer que não consegui argumentar perante essas leis básicas não é verdade? Primeiro que não dava pra escovar meu gatinho todo dia, seria tedioso demais para minha capacidade. E 2 não dá pra controlar o intestino de um felino. Mas como sempre fui uma criatura muito persistente, para a felicidade ou  azar total de meus pais, fui logo tratando de solucionar o problema. Se era pra ter um bichinho que não fizesse bagunça, tivesse o intestino em ordem e não fizesse cocô fora do lugar a melhor opção era um peixe! Por esse, devo dizer, mereço o Oscar de melhor ideia. Não tinha como argumentar. Era um peixe solitário em um aquário de 20cm que bagunça ele havia de fazer? Então estava resolvido o problema você deve estar pensando! Só que você não considerou o fator EXAGERO que é o sobrenome da minha mãe. Ela poderia ter comprado um beta solitário pra mim não podia? PODIA! Mas isso quer dizer que ela comprou? Nãããão! Ela fuçou uns 3 meses na internet até encontrar o maior aquário que coubesse no carro. Pra que um beta solitário quando se pode ter 12 carpas enormes, gordas e coloridas? Não tem importância se todo mês tinhamos que fazer uma faxina nele, como também não importa o fato de que eram necessários 20 galões de água para preenche-lo por completo, muito menos que o som da bomba que limpava a água impedia qualquer ser humano dentro do  raio de 100 km de dormir,  outro pequeno fato que nem merece notoriedade: ele ficava localizado dentro do meu quarto.
Depois de mais ou menos 1 ano cuidando dele e mantendo as visitas de boca aberta, minha mãe fez a maior cagada da vida dela. Como tinha acabado o líquidozinho que desinfetava a água ela resolveu colocar um copinho de água sanitária dentro do aquário. Você nem imagina o que aconteceu... Todos os peixes morreram. (A essa altura do campeonato eu e minha irmã já havíamos reivindicado o nosso direito ao sono e praticamente expulsado ele dos nossos aposentos).
 Como o pessoal aqui de casa gostava muito ter peixes, compraram  uns 8 novos. E é a mais ou menos depois de 1 ano que aconteceu a parte mais emocionante e bizarra da história. De repente, sem nem avisar antes, os peixes começaram a se suicidar. Isso mesmo que você acaba de ler! SE SUICIDAR! Primeiro aconteceu que algum gênio na hora de lavar o aquário quebrou uma das partes do teto deste. E com isso os peixes piraram, começaram a pular para fora do aquário que nem umas focas a procura de comida ou algo que o valha. Meus pais, complexados com a situação resolveram comprar um novo teto. E os peixes continuaram a ficar "pulando" mas ao invés de ir parar no chão eles acabavam metendo as fuças no novo teto. Uma pessoa normal ou peixe decidiria que essa não é lá uma forma muito agradável de passar o tempo e desistiria da ideia de se matar certo? Mas as belas carpas da mamãe não eram normais. Elas continuaram esse ritual macabro até começarem a descamar e a se machucar pra valer, até que uma a uma elas foram morrendo. A alguns dias morreu a ultima que sobrava. Acho que perdeu seu ultimo resquício de sobriedade quando percebeu que estava sozinha no mundo e acabou se entregando a perdição.
Eu até que gostava delas. Eram até gente fina aquelas carpas. Pena que meio desajustadas.
Hoje tenho muitos cachorros e gatos (e ainda moro com meus pais). Só para você ver como esse mundo dá voltas e nunca deve-se negar o pedido de uma criança boazinha.



@umpandicornio

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